quarta-feira, 12 de agosto de 2015

SEGUNDA SEMANA NA HOPE

Bom, minha segunda semana na HOPE foi mais ou menos parecida com a primeira. 

Não consigo lembrar exatamente o que eu fiz na segunda-feira =x Até porque foi 2 semanas atrás e aqui acontece tanta coisa todos os dias que fica difícil lembrar de tudo.
Na terça-feira, fui novamente pro round com os pediatras do hospital pra discutir os casos complicados. Após, fomos pro ambulatório pediátrico de HIV. Nada de muito diferente da semana anterior.
Na quarta-feira, fui pro Brooklyn Chest Hospital, com um dos experts em tuberculose. Pra ajudar na imaginação, o BCH é extremamente parecido com o Sanatório Partenon. A estrutura e até mesmo o tipo de paciente. O BCH é um hospital exclusivo para tratamento de tuberculose resistente. Pra quem não sabe, esse é um dos maiores problemas da tuberculose por aqui. O Mycobacterium tuberculosis pode desenvolver resistência com facilidade, sofrer mutações e não mais ser eliminado pelas medicações tradicionais (conhecidas como RHZE). Uma das maiores causas das mutações é a má adesão ao tratamento. Por que? O tratamento tradicional deve ser usado por 6 meses para realmente eliminar a doença. E se você já esquece dose usando 10 dias de antibiótico pra uma sinusite, imagina tomar remédio todo dia durante 6 meses - não é nada fácil. Mas ao falhar doses, a gente acaba selecionando os "bichinhos" mais fortes, e aí não vai mais ser o famoso RHZE que vai resolver. Serão necessárias mais (e diferentes) medicações, por um tempo prolongado. A chance de não responder ao tratamento é ainda maior, causando sequelas cada vez maiores e até mesmo levando à morte. Ou seja, não é brincadeira. Existem dois principais tipos de tuberculose resistente: a MDR-TB (multidrug-resistant TB) e a XDR-TB (extensively drug-resistant TB), como o nome diz, a segunda forma é muito pior e exige ainda mais medicações, por mais tempo ainda, com sequelas muito piores e a cura é bem difícil. A gente não ouve falar tanto disso no Brasil porque AINDA não é um problema significativo pra nós. Temos um bom programa de tuberculose (agradeçam, sim, ao SUS) e isso nos dá uma certa segurança. Mas ao contrário do que muita gente pensa, temos, sim, muita tuberculose. E cada vez que alguém não se trata corretamente está aumentando a chance de termos mais esse sério problema de saúde. No Brasil temos muito estigma sobre TB: muita gente não procura atendimento médico mesmo sabendo que pode ser tuberculose (porque teve contato com alguém ou porque tem todos os sintomas clássicos) porque TB é coisa de presidiário e favelado. E esse tipo de coisa traz grande impacto na saúde pública. Por isso, se tosse> 6 semanas, suador noturno, perda de peso inexplicada, febre ou qualquer outra coisa fora do comum - procurem um médico.
Peço desculpas por me estender sobre tuberculose. Mas é uma coisa bem séria. E acho que conhecimento nunca é demais.


Na quinta-feira, fui junto com a enfermeira Pauline até o distrito de Mfuleni. Eles tem um posto de saúde lá que atende crianças em geral, pré-natal, e adultos com HIV ou TB. Passei a manhã toda lá e pude ver um monte de TB resistente e a forma como eles manejam os pacientes. Bem interessante. Eles fazem as primeiras semanas de tratamento conforme a estratégia DOTS da OMS - DOTS é basicamente o paciente ir todo o dia na clínica/postinho e tomar a medicação na frente da enfermeira. Após as primeiras semanas, eles são liberados pra tomar em casa e vir em intervalos maiores pra revisão. Esse método é inviável pra ser feito com todos os pacientes e por todos os 6 meses de tratamento, por motivos óbvios. Mas tem muitas novas estratégias e novas tecnologias vindo por aí, como eu iria descobrir na outra semana quando começasse o estágio na KID-CRU. Nesse mesmo dia também acompanhei o manejo dos pacientes recém diagnosticados com HIV e pude entender o protocolo deles na prática. Novamente, nada muito diferente da nossa realidade.
Na sexta-feira, fui novamente para o distrito de Delft, para atendimento de crianças com HIV. Foi uma manhã bem longa (chegamos as 07h30 e encerramos as 14h), mas extremamente proveitosa. 

Assim terminou meu estágio na HOPE.. com a sensação de que podia ficar anos e anos fazendo isso!

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