quarta-feira, 29 de julho de 2015

MINHA PRIMEIRA SEMANA NA HOPE



Buenas, depois dessas 2 semanas na pediatria, finalmente comecei meu estágio na HOPE. Mas o que é a HOPE? É uma ONG, sediada no Tygerberg Hospital, que tem como objetivo trabalhar com HIV/AIDS e doenças relacionadas, no sentido de oferecer educação, tratamento e todo o suporte necessário para pacientes pediátricos. Apesar de sediada dentro do hospital, o trabalho vai bem mais além. Em resumo, pelo que eu vi até agora: a organização lida (de forma ativa e passiva) com muitas doações (sejam elas de pessoas físicas sejam doações periódicas de supermercados, por exemplo) e as administra e conforme a necessidade - se uma criança é admitida no Hospital e não tem roupas ou brinquedos ou material de higiene, a HOPE vai lá e resolve isso. Se a mãe não tem roupas ou material de higiene pra si, e mora longe demais pra buscar (já que muitas das internações são 'inesperadas'), a organização providencia esses itens pra mãe.
Do ponto de vista técnico, a HOPE participa de muitos rounds clínicos, no intuito de ajudar no manejo dos pacientes com RVD (A sigla significa 'Retroviral disease' e é usada MUITO por aqui - logo mais explico melhor, prometo). 
Pra esse post, vou fazer um breve resumo da minha primeira semana. No próximo post, após completar as 2 semanas na HOPE, comento da visão geral que tive sobre o HIV e todos os aspectos politico-sociais dele.

  • Segunda-feira: 
Conheci a Dr. Jayne (com quem eu já havia trocado diversos e-mails), minha "supervisora" aqui nessas semanas. Ela me explicou tudo sobre a HOPE, me deu uma aula particular sobre o panorama do HIV na África do Sul... foi fascinante! De quebra ainda me emprestou uns livros daqui, pra eu poder revisar o que quisesse. Importante salientar que ela estava muito empolgada comigo, porque ela estava acostumada com os alunos europeus (que praticamente não tem contato com HIV ou tuberculose)... e eu vim do nosso Brasil sil sil e da nossa amada Porto Alegre campeã de TB e HIV, né? Então, cada vez que ela falava de alguma droga sendo 1ª linha ou 2ª linha, eu emendava um "ah é? No Brasil, a gente usa essa como segunda linha" ou "ah, a gente não tem isso"... Resultado: ela me trata de uma forma muito profissional, me elogia pra todo mundo, discute caso de igual pra igual. Ou seja, tá sendo uma experiência incrível! No decorrer da manhã tive a oportunidade de ver vários dos materiais educativos que eles tem pra população, e são bem parecidos com as ferramentas que a gente tem no SUS. Ainda durante a manhã, fizemos um tour por algumas das 'comunidades' em que a HOPE trabalha. Foi MUITO interessante. Nada muito diferente das favelas brasileiras. Coisas interessantes desse tour:
- Numa das comunidades, no "centro comunitário" alguns dos moradores que trabalham com a HOPE estavam separando kits de higiene de avião. Óbvio que perguntei o que era... A história é a seguinte: A HOPE recebe muito apoio $$ de empresas alemãs. A Lufthansa doa os kits de higiene pra HOPE. Na HOPE, os moradores separam o estojinho - pras crianças usarem de estojo na escola! - e as escovas e pastas de dente são doados pras mães que estão com seus filhos internados no hospital. BAM! Isso mesmo, bem no meio da cara e no coração da gente.
- Ao contrário das favelas brasileiras, a maioria das 'casas' é composta por containers ou resto de containers. A comunidade que visitamos é cercada, e é uma "concessão" do governo, que está construindo casas de verdade pra eles. Assim, eles possuem fiação elétrica - mas estão sem luz porque alguns dos próprios moradores insistem em roubar os cabos (BAM!) assim como acontece no nosso país. As "casas" não tem banheiros, mas eles tem uma instalação de banheiro comunitário (um pra cada 40 pessoas, mais ou menos - BAM! de novo).
- Assim como acontece com as favelas brasileiras, a comunidade não quer sair de lá. Um deles me falou que o principal motivo é que eles acham que as casas que o governo construiu não são boas. "A gente viu construindo, as paredes são muito finas". Posto a foto das moradias novas, pra vocês mesmo pensarem se faz algum sentido que seja mais insalubre morar aí ou em containers com banheiro compartilhado com mais 40 vizinhos. E não me venham com discursinhos de esquerda. 


  • Terça-feira:
Meu dia começou com um round no hospital com o departamento de pediatria. Nesse round só são discutidos os casos difíceis, seja do ponto de vista técnico com o HIV (resistência medicamentosa, alguma doença oportunista macabra, etc) seja do ponto de vista social (criança que não tem ninguém que cuide dela, família que não aceita diagnóstico... enfim). Assim como no Brasil, os problemas sociais são sempre a maioria. Após o round, fui acompanhar uma das médicas no ambulatório de... adivinhem, HIV. Eles separam as crianças por idade, então cada dia é uma determinada faixa etária. Uma média de 15-20 pacientes por manhã. Bem tranquilo até. Foi bem interessante ver o manejo e poder discutir coisas bem práticas. E os pacientes que, né, coisamaisquerida.

À tarde, eu e a Dr Jayne fomos encontrar um dos experts em Toxoplasmose aqui. Eles tem um baita laboratório e esse cara está fazendo uma pesquisa bem grande sobre Toxoplasmose, que eles também tem bastante aqui. A Dr Jayne sempre mandava os alunos lá, mas nunca tinha ido. Resolveu ir comigo e acabamos os três tendo uma tarde extremamente enriquecedora sobre Toxo, novamente traçando mil paralelos entre a realidade brasileira e a sul-africana. Confesso que adorei ser tratada de igual pra igual e me surpreendi com o quanto eu sei de toxoplasmose, hehe. Mas enfim, foi muito legal ver os resultados parciais do estudo deles aqui, discutir coisas básicas e raciocinar em conjunto por horas. 
  • Quarta-feira:
Na quarta, fui junto com a residente de Virology pro ambulatório de... HIV! Mas dessa vez, pro de adultos. Nem preciso dizer que foi bem legal, né? Não vou entrar em detalhes porque ninguém lê isso aqui pra saber sobre perebas... mas basta saber que eu aproveitei bastante.

  • Quinta-feira:
Tirei o dia de folga porque tava meio gripada (todo mundo aqui tá pestiado #inverno). Mas juro que li um pouco dos livros que a Jayne me emprestou. Tomando uma taça de vinho, mas li.

  • Sexta-feira:
Esse foi o dia mais legal de todos. Sexta era o dia de ir no ambulatório fora do hospital, que fica num posto de saúde na periferia. Mas bem periferia mesmo. Como eu tô com carro aqui, a Dr Jayne perguntou se eu me importava de ir sozinha até a Delth Clinic, porque é longe e fica bem fora de mão pra ela me pegar no campus. Eu obviamente aceitei a aventura. E foi a coisa mais incrível. 

Podia ser qualquer lugar da periferia em Porto Alegre, né?
Primeiro que eu consegui chegar lá dirigindo sozinha. Segundo, eu parei o carro na entrada do posto e o guarda abriu a cancela pra mim com um "good morning, doctor!", sem eu dizer nada (aqui eles não me confundem com criança!). O ambulatório durou a manhã toda, mas foi sensacional. Muitos pacientes, muitas mães confusas, muita criança ranhenta... aquela coisa toda que só quem vive sabe. Pude ver a primeira consulta de um bebê de 2 semanas pra começar os antiretrovirais, o que foi um aprendizado e tanto. A Dr Sue me colocou pra trabalhar mesmo e eu fiquei zanzando pelo posto diversas vezes, seja pra pegar medicamentos na farmácia (pra ensinar a mãe como usar cada um), seja pra achar alguém que falasse Xhosa (porque inglês e Afrikaaner não é suficiente aqui) e que pudesse ser nossa intérprete com uma das mães. Novamente, diversos problemas sociais no meio do caminho, que impedem que crianças recebam o tratamento adequadamente. Sejam dificuldades na língua, seja não ter dinheiro pra pegar a van e vir no posto pegar a medicação, seja não ter geladeira pra guardar o remédio... tudo isso bate forte na gente. Porque tem se desenvolvido um mundo inteiro de tecnologia sobre o HIV e tem coisas básicas que a gente não tem como resolver.

Uma foto do consultório... a estrutura do posto é bem nova, tudo reformado. Pra traçar um paralelo, é como na Restinga - comunidade carente, mas uma estrutura novinha pra atender uma quantidade enorme de pacientes.
Terminamos as consultas e eu embarquei na aventura de voltar pro campus. Completamente realizada. E por mais bizarro que me pareça, enquanto dirigia no meio da periferia, com uma rádio africana qualquer ao fundo, foi a primeira vez que caiu minha ficha: eu tô na África. Realizando o meu sonho de ver e viver tudo isso.Tenho que confessar que caiu ~umas lagriminhas~ enquanto eu sorria sozinha dentro do carro. 
E nada mais justo do que ter esse insight depois de uma semana dessas, quando podia ter ocorrido no topo de qualquer um desses lugares turísticos. Foi pra isso que eu vim. E não tem coisa melhor do que essa sensação de olhar ao redor e saber que tu não quer estar em nenhum outro lugar no mundo.

Fim da minha primeira semana! Logo mais escrevo sobre a segunda semana e tudo o que eu penso sobre o que vi aqui!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

OLD BISCUIT MILL AND A GOOD SATURDAY




No último sábado, resolvemos fazer um programa de meninas: fomos as quatro meninas do nosso lodge tomar café da manhã/brunch num lugar super recomendado aqui - o Old Biscuit Mill e o Neighborgood Market. Ambos esses lugares ficam numa espécie de praça, num bairro chamado Woodstock. A vibe desse lugar é incrível, lembra um pouco aqueles domingos em que a gente vai pra Redenção e tem arte e comida pra todos os lados. 

Acho que o melhor jeito de descrever a sensação do nosso brunch no The Neighborgood Market é "parecia que eu estava protagonizando um daqueles programas do Food Channel". Eram milhares de stands, cada um com coisas mais gostosas que o outro. Eram mil opções de salgados, mil opções de doces, mil opções de cafés, de comida italiana, tailandesa ou culinária africana, alfajores argentinos e wafles belgas. Sabe quando tu fica deprimido com tanta comida, porque sabe que não vai conseguir dar conta de tudo? Foi isso. Parece que não vai ter sábados suficientes pra gente experimentar tudo. O clima era muito família e minha vontade era trazer todo mundo do Brasil pra vivenciar isso comigo! 




Então, pra variar, vamos falar de comida:


Café com uma torta de frango - mas nada de muita massa e pouco frango. Muito pelo contrário.

E a estrela do sábado: waffles belgas - banana com chocolate com mais chocolate e sorvete de baunilha e mais chocolate. Morri. Morremos.
Pois bem. Terminada essa comilança, fomos dar uma volta, olhar a feirinha e as lojas do Old Biscuit Mill. Muita coisa barata, muita coisa linda... E a estrutura é toda nesse clima da foto:

Após passear pelas lojas dali, fomos pro Green Market, que aí sim, parece aqueles camelódromos do litoral. E a palavra de ordem é PECHINCHAR. Nada é o valor que eles dizem. É a metade, ou até menos. No começo, tu te sente meio mal por isso (até porque se tu converte pra reais tudo fica tão ridiculamente barato...), mas depois tu te acostuma e começa até a se divertir com a negociação. Ali é possível comprar um monte de lembrancinhas pra turista - desde roupas, bolsas, artesanato, brincos, até estátuas enormes e quadros lindos. Nisso já se foram mais umas 3h. Não tirei foto de lá, porque tava muito ocupada comprando bugigangas.

Voltamos ao campus, e fomos assistir a um jogo de Rugby - doutorandos versus acadêmicos. Primeiro que tava muito frio. Segundo que wtf rugby. Deu saudade de assistir o Pumpkins e o futebol americano, civilizado! Mas valeu a experiência!

Após isso, fomos jantar no Fat Cactus, pra comemorar o aniversário de uma das gurias do alojamento. Depois disso, parte do pessoal seguiu noite adentro, e eu voltei pro campus porque tava muito cansada sou comportada.

Pra resumir tudo isso:

terça-feira, 21 de julho de 2015

PAEDIATRICS EXPERIENCE

Como já falei em post anteriores, minhas duas primeiras semanas nesse estágio na África do Sul eram na pediatria. Esse post é pra provar que nem tudo é turismo e eu realmente tenho trabalhado aqui, hehe. 
Inicialmente, eu ficaria uma semana na "General Paeds" e outra semana em alguma especialidade pediátrica. Porém, logo que eu cheguei no hospital me deparei com um mundo completamente à parte. Não pelas doenças ou pela estrutura do hospital, mas porque tudo é em inglês. E o inglês da conversa até eu consegui me acostumar, mas GENTE, se vocês acham que os brasileiros escrevem muitas siglas, vocês precisam ver isso aqui. E, pior, as siglas são todas em inglês (obviamente). Então, levou um certo tempo (e uma dose de paciência dos 'local students') pra eu me acostumar e entender as principais siglas. No fim da minha primeira semana, eu estava começaaaando a me sentir ambientada e segura pra assumir algum paciente. Assim, mandei um email pra minha preceptora e perguntei se eu não poderia passar essas duas semanas na pediatria geral - porque obviamente ia aprender muito mais. Como manda o protocolo, enviei um email de trocentas linhas me justificando e pedindo gentilmente pra ficar mais uma semana; e, como todo professor ao redor do mundo, recebi a resposta "ok!" -- adoro. 
Enfim, passei mais uma semana na General Paeds. Minha rotina foi basicamente chegar no hospital às 8h, ver uns pacientes, evoluir, passar no round eeee that's it. Todo dia lá pelas 13h eu já estava de volta no aconchego do nosso alojamento - por isso tantas fotos turistando por aí. 
Como falei em outro post, o hospital da universidade é público. Mas tirem da cabeça o Hospital Santo Antônio ou qualquer outro dos hospitais da Santa Casa. Se quiserem imaginar como é o hospital, pensem no Conceição, mas daqui uns 10 anos, sem reformas, sem investimento. E não, a África do Sul não é um país pobre. Mas não possui investimento suficiente em saúde e tem muita corrupção - lembra algum país? Os europeus que moram comigo ficam muito assustados e deprimidos com a situação do hospital, e toda essa questão política/econômica/social, enquanto eu... tô me sentindo em casa. Valeu dilma!  
Mas, assim como no Brasil, boa vontade é a regra nos profissionais. Todas as paredes da ala da pediatria são pintadas à mão com cenas da Cinderela, Branca de Neve, Pocahontas, Tio Patinhas, a Bela e a Fera, Ben10, tartarugas ninjas e muitos outros desenhos. Muito da mobília dos quartos é antiga/ultrapassada, e dá aquela imagem de "África" que todo mundo tem em mente. Mas tem todo o outro lado. Algo que a gente já ouviu falar sobre os médicos brasileiros no exterior - quando a gente tá acostumado a não ter recurso, nos tornamos excelentes médicos. Aqui os médicos dão um banho de conhecimento. Os europeus falam todo santo dia "meu professor aqui é ótimo, melhor que os da minha universidade", "tem que ver a aula que eu tive hoje no round", "os caras sabem muito". E, sim, sabem. Todos os médicos que eu tive contato até agora sabem tão profundamente os assuntos, dominam e vão do conhecimento básico ao avançado em segundos. E a minha impressão é de que os alunos aqui estudam TANTO. Óbvio que não dá pra falar de todos, mas os que eu conheci, cada segundo livre é um segundo pra estudar - e não um segundo pra tomar um café beber e fazer festa.
Durante essas duas semanas, acompanhei os alunos do 3º ano. Foi uma troca muito interessante: elas me ajudavam com o inglês e as siglas, enquanto eu ajudava com a Medicina - porque essa é universal. Respondi perguntas sobre ausculta pulmonar, bronquiolite, antibioticoterapia, sobre como passar um caso e como palpar um fígado. Aprendi que GAEB significa good air entry bilaterally, que PCR em inglês vira CRP, que B/C é blood culture e que CXR é chest x-ray. Aprendi mais mil siglas e mnemônicos. Vi crupe, pneumonia, bronquiolite, infecção urinária, sepse, meningite. Vi umas crianças lindas. Vi umas crianças com olhos tristes. Vi umas crianças que me apaixonei e fiquei com vontade de levar pra casa - mas fiquem tranquilos que não sequestrei ninguém. Tecnicamente, fui forçada nos rounds a lembrar que antibiótico cobre o quê, que Listeria é um bacilo e quais os valores de glicose e proteína no líquor são indicativos de meningite bacteriana ou viral. Descobri que nossos laboratórios são muito rápidos e eficientes, e que a gente sente saudade do Tasy quando tem que evoluir prontuários à mão. Descobri que os acadêmicos, independente do país, ficam zanzando pelos corredores sem ter o que fazer - até que alguém finalmente libere eles; descobri que rounds intermináveis não são exclusividade brasileira.
Acima de tudo, descobri que o ser humano passa pelos mesmos problemas em qualquer lugar do mundo. E que mães tem os mesmos olhos assustados independente de falarem inglês, português, Afrikaner ou Xhosa. E que a gente não precisa saber nenhuma dessas línguas pra cuidar de alguém. Muitas vezes um sorriso, um aperto de mão, um balão feito de luva ou uma careta são capazes de acalmar mães e filhos.

Pra ilustrar esse post, duas fotos com meu xodó da internação, que todo dia corria pra me dar um abraço e me mostrar os tênis de luzinha. No último dia, passou a manhã toda comigo vendo os pacientes "Doctor, look, I'm a doctor too", "I will see some patients", "this one can go home". Nunca vou me esquecer desses olhinhos brilhantes cada vez que eu emprestava meu estetoscópio e ela saía a auscultar o coração de todas as mães e crianças do quarto.



Todas essas coisas que eu relatei acima fizeram minhas duas semanas muito intensas e me ensinaram muito, sobre Medicina e sobre pessoas.
E vamo que vamo, que temos mais 4 semanas pela frente!

domingo, 19 de julho de 2015

THE AFRICA CAFE

Sabe aqueles lugares que vão no topo de qualquer guia turístico como MUST DO? Com certeza o Africa Cafe é um deles. Localizado no "centro" de Capetown, a começar pela decoração, UAU. 
Queria ter tirado mais fotos, mas preferi absorver somente com os olhos. O Africa Cafe lembra um pouco aqueles casarões antigos da Cidade Baixa (em Porto Alegre/RS), pois acaba sendo um restaurante com vários "cômodos". Ficamos numa sala toda decorada com pinturas egípcias. Todos os pratos e jarras eram coloridos e lindos e cheios de história. O menu? Estava descrito em um pote/lamparina. Nossa janta seria provar tudo que constava no cardápio e depois pedir "refil" de tudo o que a gente quisesse, quantas vezes a gente quisesse. Como vocês já puderam perceber nesses posts todos, IT'S ALL ABOUT FOOD. Esse tem sido nosso lema.


Não consigo lembrar exatamente quantos pratos eram. Mas eram mais de 10, com certeza. E comemos muito, com certeza. E tudo era incrível, com certeza. A ideia desse jantar é que cada prato envolvia um lugar diferente da África. Assim, era possível experimentar um pouquinho da culinária de cada canto desse enorme continente. O resultado? Uma das refeições mais legais que já fiz na vida.
Tirei vários fotos dos pratos no começo, mas acabei me empolgando no "comer" e esqueci de tirar fotos. 
A "entrada" era algo tipo lentilha, com umas tapiocas e uma massinha frita - reparem que essas descrições são bem generalizadas, só pra dar uma noção, sem nenhuma correlação com a realidade.

Após a entrada teve mais ou menos um zilhão de coisas, o que incluía um peixe frito (que até eu achei delicioso!), alguma coisa com cordeiro, um arroz com alguma coisa (muita precisão, eu sei!), um frango bem temperado, e mais um monte de coisa que eu não consigo lembrar - e mesmo que eu quisesse, jamais saberia descrever!

Quando tu já está naquele momento de "deus, por que eu fui comer tanto?" (sendo que nem havíamos chegado na parte de repetir o que a gente quisesse), uma das funcionárias do restaurante chegou pra fazer nossos "face painting" - pinturas lindas nos nossos rostos. Foi uma experiência muito bacana; éramos mais de 20, cada um com uma pintura diferente, uma mais linda que a outra.



A sobremesa - um sorvete de baunilha com um biscoitinho amanteigado e mais umas coisas que eu não faço a menor ideia do que eram - só sei que era bom.

Devo confessar que a sobremesa perdeu um pouco do appeal porque logo após a servirem uma galera entra no nosso cômodo e começa a cantar músicas típicas africanas - de longe a coisa mais legal que eu fiz aqui. Uma energia, uma vibe muito boa, impossível não se emocionar. Tentei fazer um vídeo, mas como não era a prioridade, acabou ficando meio porco. Mas já dá pra ter uma ideia:





Depois de tudo isso, dessa inundação de cultura, culinária e energia positiva, nem preciso dizer mais nada. Só mais uma foto do pessoal - pra variar.








sexta-feira, 17 de julho de 2015

WINE TASTING

"Beba vinho para o espírito e para a boa digestão. Beba vinho na festa e na solidão. Beba vinho por cultura ou por educação. Beba vinho porque... Bem, você encontrará uma razão" - L.F. Veríssimo.

Minha família toma muito vinho. Muito mesmo. Cresci convivendo com vinhos e suas harmonizações com as mais diversas comidas. Virou um hábito. Nos dias frios, nos dias de comemoração, nos dias de tédio, nos dias em que der vontade... Não sou nenhuma expert em vinho, mas certamente sei dar o devido valor a essa bebida digna dos deuses. Pois bem, a África do Sul é um país que tem crescido muito no mercado do vinho. Quarta-feira fomos visitar uma das vinícolas próximas do nosso campus. Constantia é um "subúrbio" de Capetown, e possui diversas vinícolas - uma com a vista mais incrível que a outra.
Inicialmente, iríamos só passar a tarde na Groot Constantia, fazer o tour e degustar alguns vinhos. O dia estava perfeito pra isso, a temperatura girava em torno dos 15ºC em um céu azul com pouquíssimas nuvens.



Quando chegamos à Groot Constantia, boas notícias: o tour incluía degustação de vinhos E chocolates (gritinhos histéricos). E, melhor ainda, por R100 (o que, se vocês ainda não descobriram a conversão, é algo tipo 30 reais). SENSACIONAL.
(Pausa pra minha foto de turista)
Fizemos o tradicional tour pela Groot Constantia, com várias explicações técnicas e etc (nada muito diferente do que a gente vê em Bento Gonçalves). Como resumir a experiência? Muuuuito turístico. Não acrescentou muita coisa no meu conhecimento sobre vinho, não me surpreendeu mas também não me decepcionou.


Vamos à parte interessante: degustação. 


O ambiente era bem interessante; o guia tinha aquele inglês atravessado dos sul-africanos... mas nada que não desse pra entender. Eram 5 vinhos pra degustação: sauvignon blanc, chardonnay, pinotage shiraz e gouverneurs reserve. Obviamente não vou me prestar a descrever todos eles pra vocês... mas o que cabe aqui é dizer que tem muito valor a gente parar pra realmente DEGUSTAR um vinho, sentir a explosão de sabores e como cada vinho "reage" numa parte diferente da boca. Mas, honestamente, nenhum vinho me chamou atenção suficiente. Não compraria (e nem comprei) nenhuma garrafa dessa vinícola. Vinhos bons, mas nada demais. 
Mas porque sequer estou citando essa vinícola então? PORQUE OMG OS CHOCOLATES.

Pra cada vinho, um chocolate. Fomos orientados a degustar o vinho. Sentir o aroma do chocolate. Sentir o aroma do vinho. Provar o chocolate. Sem exageros, os chocolates mais cheirosos que eu já vi. Era possível perceber traços de cada vinho em cada chocolate. Uma experiência muuuuuito interessante em termos de paladar. Queria comprar barras do chocolate de chardonnay. E olha que eu nem sou muito do vinho branco.

Mas voltemos à maior crítica a Groot Constantia: waaaaay tooo touristic. A degustação parecia aquela coisa do "tomem logo o vinho, vocês nem entendem nada mesmo, próximo vinho, vamos lá". Muito frustrante. Porque apesar de sermos jovens, todos ali estávamos interessados em aprender, em saborear com calma... óbvio que no grupo do tour haviam várias pessoas away, que não estavam nem aí. Enfim. Acho que pra chamar de degustação é imprescindível respeitar o timing, deixar as pessoas saborearem teu produto - mas ok. Tiramos a foto tradicional do grupo... e fomos pra outra vinícola, porque todo mundo queria uma degustação de verdade.

Lá fomos nós pra Beau Constantia. O que dizer da segunda vinícola do dia? OH YEAH.


Beau Constantia me lembrou daquele filme "Um bom ano", em que o cara larga tudo e vai tomar conta de uma vinícola. Porque dá vontade. Mesmo. Uma vista incrível, um atendimento sofisticado e ao mesmo tempo descontraído. Por R45 era possível degustar 3 vinhos diferentes e escolher o preferido como 4ª taça. Mas com tempo. Com muito tempo. Foi um final de tarde excelente. Todos na mesa conversando, rindo, trocando ideias e degustando vinhos MUITO bons. Agora sim. Vinhos com poesia. Um em homenagem ao dono das terras, chamado de "No name" (porque o dono não queria seu nome nas garrafas... o rótulo consiste apenas em um retrato de sua vasta barba); um vinho em homenagem à filha (um vinho muito sofisticado, elegante), e um vinho em homenagem ao filho (um vinho encorpado, com sabores marcantes, pra combinar com a personalidade forte do filho)... Isso sim é uma vinícola. Encerramos com chave de ouro essa degustação, com planos de visitar mais algumas (várias) vínicolas nas próximas semanas. 

Pra encerrar, duas fotos:
SIM, ATÉ O BANHEIRO TEM UMA VISTA LINDA!

SENSACIONAL EM QUALQUER LÍNGUA


terça-feira, 14 de julho de 2015

SE QUISER AJUDAR, COMECE NÃO ATRAPALHANDO

Um post de utilidade pública - e pra vocês rirem da desgraça alheia.

Vim pra Capetown com uma razoável quantia em dinheiro (rands - moeda sul-africana) e dois dos meus cartões: o meu do Santander (débito e crédito Mastercard integrado) e o meu American Express. Cheguei aqui e foi tudo lindo. Todos os supermercados e restaurantes aceitam tanto Mastercard quanto Amex, e consegui passar débito e crédito sem nenhum problema.

Ai mas cadê a desgraça alheia desse post?

Pois bem. Fui ficando sem dinheiro vivo aqui e precisava dele em espécie pra pagar uma parte do carro que estamos alugando. Ok, Ótimo. Tem um ATM (caixa eletrônico) há cerca de 30 passos do meu alojamento. E tem um outro dentro do hospital.

Mas que maravilha, Micka. Pra que esse post então?

Porque eu passei dois dias tentando tirar dinheiro daqueles malditos ATM e não dava certo. Com nenhum dos cartões. De jeito nenhum. Obviamente eu já havia, antes mesmo de sair do Brasil, avisado ambas as empresas de que eu iria utilizar o cartão na África do Sul (tanto é que eu estava conseguindo usar eles pra pagamentos em todos os lugares). Por que raios então não consigo fazer a operação mais básica de todas que é sacar dinheiro? "Vai ver todo fazendo errado". Perdi a conta de quantas vezes eu fiz o processo de colocar o cartão e digitar a senha. Aparecia uma tela de "crédito" ou "débito", após aparecia a tela de "quantia" e depois a tela "de onde eu gostaria de tirar dinheiro", Independente do que eu apertasse, sempre dava erro ou "operação não autorizada" e a maldita máquina cuspia meu cartão.

Pois bem, vamos à solução de todos os problemas: - ÔÔÔ MÃÃÃÃÃÃÃEEEEE!

- Como minha mãe resolveu  resolvemos  o Amex: Eis que quando tu liga lá e avisa que vai usar o cartão no exterior eles registram a liberação da operação pra crédito. E não te perguntam se tu quer liberar pra saques. Tá SERTO. Mas ok, em uma ligação isso foi resolvido. 

- Como resolvemos (dessa vez todo mundo tem sua contribuição) o Mastercard: Primeiro minha mãe ligou pro Santander, que disse que minha conta era integrada crédito/débito, então uma vez liberado pra uma coisa, tá liberado pra todas. Ok. Vou lá eu tentar sacar de novo, ver se aparece alguma coisa na tela, tentar descobrir. Nada. Maldita máquina cuspidora de cartão. Pra completar, ela ainda fica mostrando as coisas em português, o que me dá mais raiva ainda - se fala a minha língua porque não tá funcionando como as máquinas do meu país?! Volto pro meu quarto. Leio mil blogs de viagem e coisas do gênero. Alguém escreveu que independente de tu querer sacar da tua conta corrente, por alguma razão tu tem que clicar em "crédito" na primeira tela. Ok. Volto pela milésima vez pro ATM, apesar da certeza que eu já tinha tentado isso antes. Nada. Imaginem o meu bom humor. Volto pro meu quarto. "Oi mãe, então...". Minha mãe liga pro Santander. Finalmente fala com uma mocinha muito simpática que dá o passo a passo de como sacar dinheiro no exterior. Minha mãe me manda no facebook a seguinte mensagem: 
"1. Inserir cartão > escolher a opção mastercredit na tela > digitar a senha do cartao multiplo > vai aparecer a tela "Em que posso ajudar?" (ou algo parecido em inglês) > Selecionar 'get cash' > Selecionar "check" e depois o valor"
MAS MÃE NÃO APARECE GET CASH E ESSA PORCARIA DE ATM APARECE TUDO EM PORTUGUÊS!
Insiro o cartão. Seleciono crédito. Coloco a senha. Aparece pra escolher um valor. Digito. Aparece as opções "cheque", "poupança" e "cartão de crédito". 
Aí que a luz divina bate nas nossas cabeças e OMG TUDO É TÃO CLARO AGORA. A tradução desses ATM é feita por algo pior que o Google Tradutor. Cheque não significa cheque como a gente tá acostumado no Brasil (e como seria no português) - cheque é pra ser tua conta corrente. E a gente devia 

Sim. Reflitam. É aquela velha história. O melhor jeito de ajudar alguém é não atrapalhando. Eu vim pra África do Sul. Me deixem com o inglês. Não tentem traduzir pra português o maldito caixa eletrônico.

Quando hoje pela manhã finalmente consegui sacar meu dinheiro, a alegria foi tremenda.
Tanto que, finalizada a operação, quando apareceu "Obrigado" na tela, nem respondi "F*** you" pro caixa eletrônico.

- Pra vocês verem que nem tudo são passeios e criancinhas fofas no meu dia-a-dia aqui em Capetown.

CHEETAH OUTREACH




Neste último domingo, fomos conhecer as Cheetas em uma reserva. O clima estava meio instável e apostamos numa coisa mais tranquila... Não que a gente tivesse feito party hard no sábado - pelo contrário, ficamos vendo séries e filmes -, mas todo mundo estava numa preguiça clássica de domingo. Quem me conhece bem sabe que animais não são a coisa que eu mais amo no mundo, mas cheetas merecem todo o respeito. Então lá fomos nós.
The Cheetah Outreach não é muito longe de Tygerberg e chegamos lá em cerca de 35 minutos. Logo na entrada tu já dá de cara com uma lojinha cheia de coisas baratinhas e que dá vontade de comprar tudo - mas não, Micka, não vai caber na mala. Chegamos lá por volta das 13h e fomos ver como funcionava. A gente podia olhar os animais através das telas... e pagando algo em torno de R130 (o que dá uns 30 reais) era possível entrar num dos espaços e tocar numa cheeta, tirar fotos e etc. Mas tudo isso só após as 14h. 


Como comida tem sido uma constante em todas as coisas que fazemos por aqui, resolvemos almoçar pra matar o tempo. Na reserva mesmo tem uma cafeteria/restaurante, onde escolhemos uma mesa no sol (porque apesar dos dias ensolarados tem feito muito frio) e cada um foi escolhendo o que comer. Vai parecer clichê se eu usar a palavra "sensacional" mais uma vez pra descrever a comida daqui? Pedi um cheeseburguer e uma coca, paguei R75 (sim, só 18 reais) por um cheeseburguer que continha um hambúrguer de uns quase 5cm de altura, cheio dos temperos, cheio de queijo, e envolto por muita (mas muita!) batata frita e 2 onion rings. 


Mas voltemos à reserva. Eu sempre gostei de animais selvagens, sempre achei guepardos muito interessantes... mas tem uma coisa que me incomoda muito: ver animais em terrenos cercados. Na reserva, não são jaulas pequenas, são terrenos cercados de um tamanho considerável. É possível ver que elas são bem cuidadas e o carinho que os tratadores tem pelos animais. Mesmo assim, não consigo gostar da ideia. Logo que cheguei achei que ia querer fazer todo o esquema de encostar numa Cheetah e tal, mas a verdade é que não fiz questão. Então eu e mais metade da galera curtimos mais um pouco do sol e voltamos pro campus. 





Fica pro Safari essa parte de ver os animais livres e vivendo todo seu potencial.

PS: óbvio que comprei uma bugiganga. Sou turista.


sábado, 11 de julho de 2015

STARDUST THEATRICAL DINING

Quinta-feira fomos jantar no Stardust, no centro de Capetown. Só sabíamos que às 20h haveria um show no restaurante, mas não fazíamos a menor ideia do que seria. Então, conforme combinado, as 19h30 estávamos lá sentados. O lugar parecia bem bacana, nossa mesa era num mezanino, que possuía uma visão excelente do palco. Mas o que de fato ia ser o show? Pedimos uns drinks, nosso garçom era bem animado e a gente tava com fome. Eis que, de repente, nosso garçom tá lá no meio do palco, com microfone na mão:


É isso mesmo. Nosso garçom começou a cantar. E cantar MUITO bem. Ficamos muito surpresos e os aplausos logo tomaram conta do restaurante. Findada a música, eis que outro garçom surge no palco, também mostrando seu talento. A ideia do restaurante é sensacional: todos os garçons (todos!) são artistas, sejam músicos, dançarinos, mágicos... e todos estudam/estudaram Artes na faculdade. Então, você está lá, bebendo e conversando, quando as luzem diminuem e outro garçom aparece no palco com um truque de cartas, ou dança do ventre, ou música country.... A apresentação acaba, a luz reacende e tudo volta a funcionar como se fosse só mais um restaurante normal.
A experiência é incrível! A vontade era gravar tudo, mas é aquela velha história, a gente não deve viver os bons momentos da vida olhando através da câmera do celular. Então eu realmente curti a noite e gravei dois trechinhos só pra dar uma ideia. Já adianto que a qualidade não ficou lá essas coisas, mas se vocês quiserem conferir mais, só entrar na página do restaurante no facebook deles.



Bom, mas era um restaurante, certo? Vamos falar de comida! OH GOD. A comida não destoava em nada da experiência. A entrada era uma bandeja enorme de pães sírios com uma infinidade de potinhos de molhos diferentes (queria poder dar exemplos, mas além dos nomes típicos daqui, meu inglês pra culinária é bem sofrível... o que importa é que era muita coisa diferente, e tudo delicioso). O prato principal era composto de 3 grandes pratos: carne, frango e frutos do mar. Eram basicamente 3 panelas cheias que eles colocavam na mesa, e cada um se servia a vontade. A quantidade é considerável pro padrão brasileiro - mas os meus amigos europeus estavam chocados com tanta comida, porque pra eles era exorbitante! (sim, eu fico chocada com o quão pouco eles comem. Me dá fome ver eles comerem) O frango tinha um molho adocicado e ao mesmo tempo extremamente temperado, não tenho como descrever... precisaria assistir muito mais o Food Channel pra saber explicar pra vocês. A carne era bem macia e acompanhada de um monte de coisas que ninguém na mesa conseguiu definir exatamente o que era. Mas, como sempre, o que importa é o sabor. Pra completar, veio a sobremesa. Aí sim, essa eu é que fiquei chocada... true happiness. A sobremesa era crème brûlée (maravilhoso!) e uma variante de um petit gâteau - um sorvete de creme com uma fatia (daquelas enormes) de bolo de chocolate coberto com chocolate e calda de morango. Dá vontade de chorar só de lembrar! 



A conta foi relativamente salgada (uns R300). Por que relativamente? Porque em reais isso dá uns R$70, o que é barato pra uma experiência e uma culinária desse nível... e porque aqui na África do Sul comer é muito barato. Nosso gasto médio pra jantar fora aqui tem sido tipo R60... convenhamos que com 15 reais no brasil tu não consegue comer nada, muito menos beber.

Acabamos indo embora "muito tarde", porque demoramos um bom tempo pra conseguir comer tudo, bem como aproveitamos todas as apresentações. Era quase 1h quando voltamos pro alojamento - o que é 4h mais tarde do que o horário aceitável pros britânicos dormirem, hehe. O silêncio na volta foi considerável, e as únicas coisas que se ouvia eram "oh, I'm too full", "oh, I ate too much", "I'll never eat again"... Ou seja, valeu a pena!

SOBRE O NOME DO BLOG

Me dei conta que ainda não havia escrito sobre o nome do blog. "Sawubona" logo apareceu pra mim quando embarquei no vôo pra África do Sul, pois é o nome da revista da SAA. E eu fiquei imaginando o que seria, porque certamente aquilo não era inglês. Logo que me acomodei aqui no alojamento fui procurar o que significava... Sawubona signfica "eu vejo você". Mas obviamente é muito mais profundo que isso.
Acho que uma das respostas mais completas está aqui nesse link aqui.

Realmente recomendo que vocês cliquem e leiam/ vejam o vídeo. É muito interessante!

Eu sempre fui apaixonada pela filosofia Ubuntu. Inclusive, um dos "post-it" que aparecem no meu desktop vem com a seguinte frase: "Ubuntu não significa que a pessoa não se preocupe com o seu progresso pessoal. A questão é: o meu progresso pessoal está ao serviço do progresso da minha comunidade? Isso é o mais importante na vida. E se uma pessoa conseguir viver assim, terá atingido algo muito importante e admirável." --- sempre leio isso quando tô cansada/irritada, e me ajuda a deixar o egoísmo de lado e tentar ser uma pessoa melhor!

Enfim, pra quem ficar com preguiça de clicar, deixo aqui um trecho sobre sawubona que diz bastante:

"Seeing is a dialogue. It establish you as a witness to some phenomenon that can also be a witness to your own presence. When two human beings meet in this gesture of sawubona, the acknowledgment is, we see each other. That becomes an agreement, because we're obligated, from that point, to affirm the reality that seeing has empowered us to investigate our mutual potential for life. So it invites us to communicate. If we are seeing each other, why are we here at the same time. What has this moment of time given us to be able to do. So it's an invitation to participate in each other's life."


Acho que toda minha ideia de vir pra cá, e tudo que eu tenho vivenciado aqui até agora tem sido bem nesse sentido. Cada pessoa que eu conheço me dá o direito e dever de investigar nosso potencial, nos comunicar e descobrir porque estamos aqui juntos, qual o sentido de tudo o que vivemos e viveremos. Participar da vida das pessoas é uma das coisas mais lindas!

Então...
Sawubona!

O CAMPUS



O que dizer desse Tygerberg Campus, que mal conheço e já considero pakas? #sddsorkut

Como eu expliquei num outro post, o Tygerberg Campus é o campus da Faculty of Medicine and Health Sciences. A universidade é particular, e é uma das quatro instituições em que se pode cursar Medicina na África do Sul. QUATRO. Isso mesmo. Não é essa palhaçada que estamos vendo no Brasil. Ou seja, é bem difícil querer ser médico na África do Sul - por vários motivos, que provavelmente farei um post explicando. O campus tem vários prédios, onde ficam salas de aula, setores administrativos, biblioteca, laboratórios, o hospital (que é gigante e será descrito nesse post) e os alojamentos dos alunos. Além disso, tem academia, mercadinho, papelaria, restaurante, quadras de squash, quadras de tênis e mais um monte de coisas que eu ainda nem fui ver. Vamos pras partes mais relevantes:

  •  Meu alojamento:




Tirei uma foto panorâmica pra ajudar na ideia... Este é o International Students Lodge, um alojamento só pra estudantes internacionais (dã!), que vieram fazer estágios optativos aqui. Tem uma estrutura bem boa... Que vai ficar melhor em breve. É um alojamento enorme, com piscina e tudo... nas próximas semanas deve terminar a reforma do salão de entretenimento, onde vai ter sofás e uma TV gigante. Looking forward to that! O alojamento é composto por várias unidades (que vão de A a L, se não me engano). Cada unidade tem uma cozinha, banheiros e alguns quartos. Tô no Lodge D, que tem 6 quartos. Comigo moram 2 alemãs (que dividem um quarto), um alemão e um britânico. Os quartos são individuais ou duplos - e você pode escolher, conforme disponibilidade. Os quartos são bem básicos: cama, armário, escrivaninha e espelho. Mas ninguém precisa muito mais que isso, né? A gente tem faxineiras que trocam os lençóis e toalhas uma vez por semana, e dão uma geral na limpeza. Nos demais dias é por nossa conta. Como diz nosso aviso na cozinha "Sexy people dean their own dishes". No geral, no alojamento, são todos europeus. Sou a única não-europeia e a primeira brasileira a pisar na faculdade, hehe. Tá sendo bem bacana essa experiência com os europeus e meu inglês definitivamente tá adquirindo um sotaque britânico!

  • The Tygerberg Hospital
Vocês podem estar se perguntando porque eu coloquei uma planta do hospital... pois bem, "senta que lá vem história". O hospital foi construído na épica do Apartheid, e tem esse formato em H (duas torres interligadas) por um motivo: foi planejado para ter uma torre para brancos e uma torre pra negros. E mais: os médicos brancos atendiam os pacientes brancos, os médicos negros atendiam os pacientes negros. Cada um no seu quadrado; no caso, na sua torre. Entretanto, os médicos brancos podiam atravessar para o outro lado e atender pacientes negros; enquanto o contrário não era verdadeiro. Hoje, evidentemente, não existe mais essa divisão, e as alas são ocupadas conforme especialidades. O hospital é gigante, cheio de alas, corredores, portas e passagens secretas, hehe. Quase me senti em casa, porque lembra muito a Santa Casa, é fácil de se perder aqui. Como falei em outro post, o hospital é público. A estrutura é bem pior do que a gente tá acostumado a ver na Santa Casa, mas se for comparar com a estrutura do Conceição, não fica tão distante. Mesmo assim, os móveis são velhos, as paredes precisariam de reforma, mas dá pra ver que eles fazem o melhor que conseguem. A ala pediátrica é toda pintada à mão, com desenhos do Frozen e outras coisas coloridas... Boa vontade é universal na área da saúde. Acaba sendo engraçado ver os europeus chocados com as coisas do hospital (e eles acham engraçado eu ficar tão tranquila)... a verdade é que a gente convive com um sistema de saúde bem parecido com o sul-africano, onde há pouco dinheiro e muito desse pouco acaba nas mãos erradas. Mas, vamo que vamo. É muito bom ver tanta gente querendo fazer sua parte e tornar a vida das pessoas melhor.


Do campus era resumidamente isso que eu queria registrar... Em breve posto novas coisas :)


quarta-feira, 8 de julho de 2015

TABLE MOUNTAIN


Como combinei com meus roommates, levantamos sábado de manhã pra visitar talvez um dos pontos turísticos mais famosos da cidade e do país, a Table Mountain. Atualmente é uma das novas sete maravilhas naturais do mundo. E depois desse longo sábado posso dizer com todas as letras que é mesmo!

Pra chegar no topo da Table Mountain existem duas opções: pode-se usar um teleférico (too easy!) ou fazer uma caminhada/ hiking. Existem várias trilhas, com diferentes graus de dificuldade. Optamos pela Platteklip Gorge, uma das trilhas mais fáceis, que levaria "só" 3 horas até o topo. Mas essas 3 horas pareceram umas 50h, porque o caminho foi bem mais difícil do que a gente imaginou. Boa parte da trilha é extremamente íngreme, cheia de pedras e com um sol de rachar... tudo 100% natural. Mas, ao mesmo tempo em que tu fica torcendo pra morrer, é possível ter uma vista incrível. Tirei uma centena de fotos maravilhosas no decorrer da trilha, e olha que foi só com a câmera do celular. Além da vista, a energia que vibra nesse lugar é sensacional. 







Ironicamente, no terço final da trilha, alguém escreveu "Jesus will soon return", e todos nós ficamos rindo sobre como Jesus podia nos dar uma carona pra chegar mais rápido lá em cima. Mas, depois de acabar a água, as piadas, a energia... chegamos. O topo da montanha é extremamente bem planejado como lugar turístico, possui vistas igualmente incríveis. É possível ver toda Capetown láááá em baixo, ver o oceano sem fim... enfim, inesquecível. Lá em cima tem um restaurante com uma vista maravilhosa e comida suficiente pra você voltar a sentir suas pernas. Tiramos mais um zilhão de fotos lá em cima e fomos pra parte mais incrível do topo: o teleférico pra voltar. Ninguém sequer cogitou voltar caminhando, tamanha a dificuldade da trilha. E o aerialcable é simplesmente sensacional. É um teleférico giratório, que te permite ter uma visão de tudo enquanto vai descendo. Em menos de 5 minutos estávamos no chão de novo, com um único objetivo - dormir.


Foi uma excelente maneira de começar essa minha fase sul-africana! Não canso de olhar as fotos e torná-las meus planos de fundo pra tudo, hehe.